segunda-feira, 2 de julho de 2012

Cenário sem lona

Tenho acompanhado as entrevistas que a Rose Guglielminetti tem feito para o blog e para o jornal Metro, e também produzidas na Band FM. Ela sai na frente no debate eleitoral deste ano. Mas, até o momento, nenhum entrevistado empolgou. Apenas clichês, repetições de ideias genéricas (reforma administrativa - choque de gestão etc.), sem que haja uma proposta palpável e plausível para enfrentar a crise instalada em Campinas. Isso resulta das coligações partidárias, pois até o momento a moeda de troca é o tempo de tv; os partidos nanicos, chapa pura, não se preocupam com isso, mas também pouca chance têm de conquistar um lugar no segundo turno. Há tentativa de oferecer algo diferente, mas insuficiente para responder às demandas por Educação, Saúde, Transporte, Habitação etc, como foi o caso do candidato do Partido Verde. À esquerda, PSTU e PSOL, sem novidades também, pois a chave ideológica é a luta de classes. Chama a atenção a entrevista dada por Pedro Serafim Jr. Parece que ele descobriu a Prefeitura e a crise somente agora. Num tom que beira à exasperação, Serafim repete o mantra do choque de gestão, enquanto gasta os tubos com propaganda e deixa vários setores da administração sem recursos. Os outros candidatos caminham sobre ovos, e evitam pisar com mais convicção sobre os pontos graves da administração pública. Por enquanto, é o mais do mesmo.

Os fatos indicam que três candidatos disputam o primeiro turno: Jonas Donizette, Pedro Serafim Jr. e Marcio Pochmann. Três perfis muito distintos, com biografias distantes um de outro. Donizette constrói um projeto político baseado na carreira pessoal, num discurso forjado no radialismo, ambiente que lhe oferece os elementos  semiológicos de comunicação massiva. Porém, os aspectos teóricos das doutrinas políticas são muito superficiais em suas pregações, apesar do empenho em fazer a famosa lição de casa do mundo político, ou seja, conhecer os problemas e fatos de modo relatorial. Pesa sobre ele, o fato de ter sido deputado estadual que ofereceu todo apoio ao governo tucano Alckmin, e, hoje, na Câmara Federal, apoia o governo petista. Hábil negociador, Donizette cumpre uma das máximas da política paroquial mineira, "sempre ciscar para dentro".

Serafim demonstra que sempre esteve alienado da administração pública. Com exceção dos interesses pessoais, de empresário da área médica e imobiliária, registra uma carreira insossa como vereador desde o primeiro mandato em 1996. Apoiou o governo Hélio de Oliveira Santos e foi contemplado com a recíproca ao se eleger presidente da Câmara de Campinas para o biênio 2011/2012. O então prefeito aceitou defenestrar, da eleição à presidência da Câmara, um dos mais leais vereadores de seu mandato, Francisco Sellin, em favor de Serafim. Mas, com a crise e a cassação dos mandatos de Hélio e do vice, Demétrio Vilagra, assumiu a Prefeitura. Curioso é que enfrentou a ferrenha oposição da bancada do PSDB, na Câmara, na eleição para presidi-la. Depois que seguiu para se sentar na cadeira de alcaide, soube cooptar parte dos tucanos. 

Pochmann, candidato da coligação PT/PSD, é pesquisador no campo da Economia. Ex-presidente do Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (IPEA), tem uma carreira de sucesso e não registra acusações ou denúncias que manchem seu currículo. Mas, é uma novidade na disputa eleitoral. Em Campinas, enfrenta uma eleição difícil, num cenário de crise, no qual o PT foi profundamente atingido com denúncias de corrupção por estar aliado ao então prefeito Hélio de Oliveira Santos, cassado junto com o vice petista, Demétrio Vilagra. Pesam contra Pochmann o fato de sua vivência em Campinas se restringir à Unicamp, carregar a herança do PT local, marcado por dramáticos episódios desde a eleição de Jacó Bittar e o rompimento com o partido, o assassinato do prefeito Toninho, e, agora, a aliança com um partido à direita, o PSD de Guilherme Campos, representante dos empresários do comércio. Como presidente do IPEA, deixa um mandato rico em produção de pesquisa estratégica para projetos do governo federal.