terça-feira, 26 de abril de 2016

A imprensa campineira

Livro organizado pelos professores Carlos Gilberto Roldão, Fabiano Ormaneze e Ivete do Carmo-Roldão, da Faculdade de Jornalismo da Puc-Campinas, aborda, em capítulos, fragmentos da história da imprensa em Campinas.

Lançada em 1º de março deste ano, a obra reúne 12 capítulos assinados por diversos professores, jornalistas e pesquisadores. Conta com o prefácio assinado pelo jornalista Zaiman de Brito Franco e o posfácio do professor e pesquisador José Marques de Melo.

 Impressa e distribuída pela Editora Setembro, a obra relata momentos relevantes dos principais jornais diários em Campinas. E destaca um dos primeiros diários editados e impressos por jornalistas negros numa cidade de cruel tradição escravocrata, mas berço da República.

Os autores navegam também pelo tradicional Diário do Povo e o concorrente direto, o Correio Popular, cujas redações formaram novas gerações de jornalistas que foram decisivos na modernização da imprensa local.

A breve experiência do Jornal de Hoje, que reuniu profissionais da estirpe de José Hamilton Ribeiro, de João Batista Olivi, Nelson Homem de Mello, Moacir Longo, Caio Blinder, entre outros, cuja trajetória brevíssima resultou numa morte melancólica. 

As sucursais de O Estado de São Paulo e Gazeta Mercantil, além do caderno Sudeste, numa experiência de regionalização da Folha de São Paulo, são temas de outros capítulos que ajudam a compor o ambiente campineiro de competição por furos e originalidade.

Além das grandes marcas, também o Jornal de Domingo, que sobreviveu entre 1972 a 1993, enraizou em Campinas a publicação de distribuição gratuíta, semana, comum conteúdo voltado ao lazer, entretenimento, moda etc. Assim, fazia um contraponto aos jornais tradicionais e suas pautas sobre cidades, política, economica, esportes.

Os novatos Notícia Já, de circulação paga, Metro e Destak, de circulação gratuítas, encaixados no modelo de jornalismo popular, são protagonistas de dois capítulos, os quais expõem uma importante tendência do jornalismo contemporâneo.

E, como desfecho, um capítulo dedicado à participação da mulher no jornalismo campineiro, que, do predomínio de homens até meados da década de 1980, foi superado pela presença maciça das mulheres na reportagem, edição e cargos de chefia. 


sexta-feira, 22 de abril de 2016

O que é preciso?

O que é preciso?
O que não é preciso?
Chuvas de sol?
Sol incandescente e tormentoso?
Chuva e sol, sem nenhum espanhol, mas como muitos sírios.
Ainda sofro de política, num conflito devastador.
Lá, a guerra,
Aqui, a serra cega a cortar o que não pode ser cortado.
Lá, o Bashar a serrar patrícios.
Aqui, o cinismo dos idiotas
Que lavram a terra que não possuem.
Lá, as bombas que estilhaçam rostos, barrigas, pernas, corações e esperanças.
Aqui, os votos familiares que santificam irmãos, primos, pais, tios.
Menos as sogras.
Lá, distante.
Aqui, perto demais.
Vimos e ouvimos o amor à família;
A fé em Deus;
Tudo falso, cínico.
Tudo aos seus;
Tudo aos meus;
Tudo; pois, sem não é tudo;
E não se deve temer a cunha corrupta
Que renova a ilusão do voto.
Um voto sem peso, sem volume, sem metragem;
Um voto escarnecido, sombrio;
Um voto sem sol.


quarta-feira, 20 de abril de 2016

Mantra das facilidades


Em qualquer crise, o mantra "aumentar impostos" é tocado como se o mundo não encontrasse outra opção para corrigir as barbeiragens orçamentárias e a péssima gestão de qualquer governo. 

Economistas, muitas vezes, gestores, em outras vezes, e políticos, sempre, adotam o mantra quando se veem diante do excesso de gastos e da queda das receitas.

Para o estado, aumentar impostos em crise é o remédio. Mesmo que seja "temporário", palavra que perdeu todo o sentido desde o governo Sarney, com repetidas tentativas de implantar tributações provisórias.

Empresas (pessoas jurídicas) ou qualquer cidadão, quando a receita é desidratada por qualquer motivo, chegam a cortar na carne. E buscam alternativas para equilibrar o modo de vida com a economia. Com muito sacrifício, enfrentam a falta de recursos e de receita, pois não dispõem de poder para aumentá-la.

O estado brasileiro é caríssimo, dispendioso, perdulário.

Quando o PT assumiu a Presidência, o auditor Toninho Marmo Trevisan, em pesquisa feita um pouco antes sobre as receitas e destinações de verbas, constatou que cerca de 30% dos valores que chegam, via tributos, ao governo, são perdidos pela corrupção ou pela burrocracia, com gastos mal feitos.

Meses depois, preparou e lançou uma cartilha com dicas e recomendações sobre como conter a corrupção nas prefeituras do País. Veja o link: (http://www.dhnet.org.br/dados/cartilhas/a_pdf/corrupcao_prefeituras.pdf)
Desde então, a corrupção se tornou mais visível por força das iniciativas e ações do MP, da PF e do Poder Judiciário, amparados por novas leis e pelos princípios constitucionais. 

Não temos dados, todavia, se não aqueles encontrados nas ações judiciais, sobre a evolução ou a involução da prática corrupta entre os governantes. Mas, nos últimos tempos, o conjunto de medidas e dispositivos legais e administrativos expuseram sobremaneira as negociações subterrâneas entre partidos, empreiteiras e correlatas, empresas prestadoras de serviços a governos e governantes. 

Caso opte por aumentar impostos, seja o governo Dilma ou seu possível sucessor, Temer, o brasileiro estará, mais uma vez, diante de um ato extorsivo, abusivo, e até misericordioso em relação à vontade de praticar políticas tributárias que beiram à tirania. Isso porque, o sistema (??) tributário brasileiro é dos mais injustos, pois desequilibrado e estimulador da concentração de renda.

Medidas adotadas na crise enfrentada no segundo governo FHC ampliaram a carga tributária e tornaram mais injusto o sistema, na medida em que congelou a tabela de correções inflacionárias, aumentou as alíquotas, diminui as deduções e chegou conceder anistia fiscal a inúmeros devedores, conforme denúncia à época da Unafisco, entidade representativa dos servidores da Receita Federal. 

O governo petista, desde então, manteve tais medidas, com algumas poucas correções, como a correção da tabela inflacionária com valores menores do que a inflação do ano anterior (ano base).

Agora, o proto-governo Temer já ensaia balões para medir a reação popular sobre o anúncio de aumento dos tributos. E, talvez, já contando com o ovo no rabo da galinha, Henrique Meireles, possível ministro do governo Temer, aquele que ainda não começou, antecipa o caldeirão de maldades.

Ou seja, mais uma vez vão fazer cortesia com o dinheiro alheio:

http://www1.folha.uol.com.br/mercado/2016/04/1762551-brasil-pode-precisar-aumentar-impostos-diz-ex-presidente-do-bc.shtml

terça-feira, 12 de abril de 2016

Violência, política e o estado

Norberto Bobbio é um dos mais importantes pensadores sobre a política no século XX. Herdeiro de Max Weber, conhecedor das obras marxistas e de outros autores, Bobbio usou dos recursos da Filosofia, do Direito e da Ciência Social para narrar os fenômenos conflituosos intrínsecos ao universo da política. Apesar de não se considerar um filósofo, graduou-se na Universidade de Turim, Itália, e se especializou na Filosofia do Direito. Autor de uma riquíssima obra literária sobre Direito e Política, Bobbio era um severo e rigoroso crítico do bolchevismo. Conhecia os modelos totalitários e combateu o fascismo na Itália ao se aliar aos grupos liberais e socialistas. Construiu uma trajetória intelectual respeitadíssima e defendeu o modelo democrático como fundamento do Estado, de modo a conjugar as estruturas de mercado, e seu viés político liberal, com a as obrigações sociais num regime centrado nos direitos individuais, mas igualitários. Bobbio constatou que, na prática, a sociedade busca a convergência do socialismo com o individualismo, mas, o desafio seria definir o que deve ser comum e o que deve pertencer ao indivíduo.

No trecho abaixo, extraído da obra As Ideologias e o Poder em Crise (Editora UNB/Polis, 1988), Bobbio analisa o uso da violência como ferramental para a conquista do Estado como para a manutenção do poder governamental. A reflexão é bastante apropriada para o atual momento enfrentado pelos brasileiros:

"Que os grupos revolucionários justifiquem a própria violência considerando-a como uma resposta, a única resposta possível, à violência do Estado é mais que natural. Todo aquele que pôde refletir sobre a contínua presença da violência na história, não obstante a milenar e natural condenação de todas as religiões e de todas as éticas, sabe que o modo mais comum de justificar a própria violência é afirmar que ela é uma resposta, a única resposta possível em dadas circunstâncias, à violência alheia. E daí a máxima que vale em todos os ordenamentos, mesmo nos menos dispostos a tolerar a violência: vim vi repellere licet" ( é lícito repelir a força com a força).

A reflexão acima evidencia os históricos conflitos entre correntes sediciosas e governantes, nas mais diversas épocas e regiões. A violência, nesse caso, sempre foi a razão motivadora da ação para enfrentar o Estado ou para o Estado enfrentar a oposição que o ameaça.

"De resto, este mesmo argumento é usado pelo Estado para justificar o uso da própria violência, da chamada violência institucionalizada frente à violência revolucionária. É claro que a justificação da violência pela violência pressupõe que, das duas violências em oposição, uma seja originária e, portanto, injustificada. Não creio ser nada excepcional a observação de que a violência originária e injustificada, entre dois contendentes, é sempre a do outro. Qualquer pessoa que tenha assistido a uma discussão sabe que cada um se defende acusando o outro de ter começado. Como consequência, todo ato de violência é ao mesmo tempo justificado por quem pratica e condenado por quem o sofre."

Assim, o método violento se anula como recurso, mesmo diante da vitória de uma das partes. E a violência não ocorre de modo precipitado; é construída gradualmente na medida em que as partes em oposição acirram e elaboram, num primeiro momento, um discurso agressivo de desqualificação moral e política do adversário. Em seguida, movimentos invadem e disputam espaços e enfrentam os grupos adversários em atos de exacerbada expressão agressiva. Aí são construídos vários níveis de violência, sob a justificativa de que o outro, o adversário, é o fator causal.

No Brasil, o uso da violência evidenciou historicamente o Estado vitorioso em vários conflitos. Desde o período da Independência, quando José Bonifácio ajustou, sob o atento olhar do Imperador D. Pedro I, a repressão aplicada aos movimentos separatistas ou sediciosos, muitos foram sacrificados. Mais tarde, outros exemplos, como o movimento Tenentista, a Intentona Comunista e, também, o movimento que desaguou no golpe militar de 1964, as tentativas da esquerda em usar armas para enfrentar o Estado resultou em tragédias. E os governos brasileiros demonstraram toda a crueldade possível da tortura no combate aos "inimigos internos".

Agora, minoritários segmentos socialistas, de tom revolucionário, denunciam a repressão dos governos ao mesmo tempo em que propagam a derrubada ou a eliminação das correntes liberais ou autoritárias à direita. Esta, em grupos minoritários e inexpressivos, também apela para o uso de armas para combater as outras armas.

Esse cenário é propício para alimentar o ovo da serpente. Mesmo porque, a violência é um recurso de negação da democracia. Seja utilizada pelo lado que for. E a sociedade brasileira dá exemplos periódicos sobre como sempre usou a violência para as mais diferentes situações, desde os conflitos raciais até as disputas sócio-econômicas. É só lembrar que o regime escravocrata foi um dos mais cruéis e longevos na América e dele herdamos a trágica relação entre a elite e as classes sócio-econômicas mais frágeis. 

Para conhecer o pensamento e a produção intelectual de N. Bobbio, uma sugestão:

BOBBIO, N. Teoria Geral da Política - a Filosofia Política e as Lições dos Clássicos (organizado por M. Bovero). Rio de Janeiro: Campus, 2000.