terça-feira, 31 de dezembro de 2013

oh, tempo; oh, tempo!

"O tempo não corre debalde, nem passa inutilmente sobre nossos sentidos; antes, causa na alma efeitos maravilhosos".
Santo Agostinho, em Confissões.

"... o tempo é a direção dentro do espaço-tempo onde é possível fazer uma boa previsão - a direção na qual podemos contar histórias mais ricas em detalhes. a descrição do Universo não se desenrola no espaço. ela se desenrola no tempo."
Graig Callender, prof. de Filosofia na Universidade de San Diego, Califórnia.
Apesar de todas as predições ma(ia)léficas, ma(ia)lígnas e apocalípticas sobre o fim dos tempos em 2012, chegamos ao estertor de 2013. Mais uma grande bobagem ficou para trás, há 12 meses ou há 365 dias (+ seis horas) ou 8.766 horas ou 525.960 minutos e por aí vai. Fatiamos o tempo em segundos, minutos, horas, dias, semanas, meses e anos para alimentarmos a ilusão de que podemos controlar um fenômeno que muitos acreditavam absoluto. Portamos o tempo. Carregamos os dias, meses e anos. E o reciclamos como conhecimento sobre os instantes experimentados e guardados na memória. Mais um ano se vai, mais um ano que chega - ou o fazemos chegar! Só o tempo biológico é inexorável para cada um. Inevitável. O presente é o cruel ou o humorado testemunho sobre o nosso passado. O futuro, sem querer ofender Freud, é uma tormentosa ilusão que possibilita sonharmos na criação ou na renovação do mundo, ou de algo que se quer real. Em 2014, vamos continuar a medir o tempo. E a preenchê-lo com os conteúdos que desejamos, para dar sentido, significado e humana utilidade à vida. Todos, então, possam colher magníficos frutos desse projetado novo tempo. 

FELIZ 2014 para todos os amigos que acompanham comigo o mesmo tempo.

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Urubus e mourões

Cena inusitada, com pitada de estranhamento. A imagem foi captada nesta segunda-feira chuvosa, às 11h50, no acesso da rodovia Dom Pedro I para a Avenida Mackenzie. Enfileirados, disciplinados, dezenas de urubus empoleirados sobre os mourões de cerca que contornam a margem do acesso. Todos sob a chuva fina, contínua.


segunda-feira, 3 de junho de 2013

Presidente Epitácio, fronteira entre São Paulo e Mato Grosso do Sul, é hidratada pelo Lago do Rio Paraná. O represamento, em 1998, do rio, pela Usina Porto Primavera*, instalada no município de Rosana, no Pontal do Paranapanema, resultou nesse lago magnífico. Antes, o rio era portentoso, piscoso, tema de perdidas canções e poesias populares. Hoje, o encanto é hiperbólico, e se aproxima mais ainda do nome em tupi- guarani, paraná ou "rio semelhante ao mar".

domingo, 28 de abril de 2013

O ensino do jornalismo num mundo perplexo

O VI Encontro Paulista de Professores de Jornalismo reuniu trabalhos que merecem dedicada atenção. Também os temas da palestra de abertura e os da conferência inaugural. Os rumos do ensino do Jornalismo enfrentam desafios tanto quanto à crise por que passam os jornais. As palestras do Eugênio Bucci (ESPM), na sexta-feira à noite, 26, do Carlos Eduardo Lins da Silva (Fapesp) e do professor José Coelho Sobrinho (ECA/USP), no sábado de manhã, apesar de diferentes visões, convergiram para uma impressão de perplexidade sobre a produção, a edição e a difusão noticiosa no mundo das redes e da tecnologia digital. A resposta para enfrentá-lo, segundo os expositores, na busca de um jornalismo para esse cenário determinado estruturalmente, é o investimento na pesquisa (o que é o jornalismo e para que serve?), na qualidade da informação e da produção noticiosa, na compreensão sobre o que quer o público e na independência e responsabilidade do trabalho profissional. Este, aliás, é submetido também à mudança profunda: mundo analógico é igual a emprego; mundo digital é igual às iniciativas, autônomas, criativas e empreendedoras (e rico em dúvidas!!).

Bucci e Carlos Eduardo convergiram em torno da tese sobre o jornalismo como negócio, sem abrir mão das responsabilidades e da ética da profissão num mundo cada vez mais complexo. De modo geral, ambos pertencem ao universo dos grandes jornais, dos cenários metropolitanos e mundiais. Contudo, os pequenos e médios jornais encontram eco em algumas iniciativas como as do maior investidor norte-americano, Warren Buffett, que tem adquirido empresas jornalísticas de pequeno e médio porte nos EUA. Na crise, as compra a preços baratos, na expectativa de serem valorizadas por editarem jornais de baixa circulação, mas com um componente relevante: são locais.

Um outro ponto comum: jornalismo é negócio. Ou melhor: a linha de pensamento de Bucci e de Lins da Silva, no evento, realçava o trabalho do norte-americano Tom Rosenstiel, diretor executivo do American Press Institute (http://www.americanpressinstitute.org/). A relação comercial entre a produção noticiosa, os meios de difusão e o perfil dos públicos consumidores é norte para os projetos destinados a alimentar a adequação dos jornais ao cenário das tecnologias digitais.

Aqui, na terra brasilis, a precarização profissional combinada com a tradição das empresas familiares ou contaminadas por grupos político-partidários (são poucas as exceções) desenham um presente nem tão próspero para a atividade se mantiver o modelo convencional predominante. Jornalistas vivem, tanto quanto os patrões, a indecisão provocada pelas profundas mudanças tecnológicas e econômico-financeiras que abatem práticas conservadoras e visões acomodadas sobre a produção noticiosa. Desafio para a construção de outros trajetos e projetos para um novo jornalismo e um jornalista ousado e desbravador.

O VI Encontro Paulista foi sediado e promovido pela ESPM / SP e pelo Fórum Nacional de Professores de Jornalismo.

Outro jornalismo - Foi na exposição do Prof. José Coelho Sobrinho, porém, que a expressão "crise de identidade" do jornalismo adquiriu outros contornos. Coelho Sobrinho destacou o resultado de pesquisa conduzida por ele, na USP, a qual constatou que os 18 cursos de Jornalismo avaliados na Capital paulista apresentavam "foco no mercado." Ou seja, reproduzem, de certo modo, os atributos do jornalismo convencional. As escolas de Jornalismo, portanto, parecem rejeitar outras modalidades ou modelos de produção e difusão noticiosa, como a comunitária, por exemplo. Aí, encontra-se um nó. Desatá-lo depende de um longo e multifacetado caminho.

terça-feira, 23 de abril de 2013

Profissão jornalista, função repórter

Aqui, o declínio com um viés contraditório. Ao apontar a profissão de "repórter" de jornal impresso (newspaper) como a pior entre 200 delas, o CareerCast.com expõe uma tendência formada pelo cenário atual dos jornais em papel e ao mesmo tempo um desvirtuamento. Repórter, no Brasil, não é profissão, mas sim uma das funções exercidas por jornalistas. Pode ser uma atividade desenvolvida por qualquer pessoa em situações diversas das praticadas no jornalismo. O foco do texto reafirma o lento desmoronamento da atividade convencional do repórter dos jornais impressos. 

Ocorre que as tecnologias digitais e em rede favorecem a reformulação da atividade ou da função. Qualquer blogueiro pode ser um repórter, de qualidade ou não, com habilidades ou não. Isso não significa que o tal blogueiro seja jornalista. A rigor, repórter é todo sujeito que carrega e difunde uma informação, uma notícia, que pode ou não ter um bom tratamento estilístico ou de precisão. Mas, jornalista - apesar de desempenhar o papel de repórter - exerce várias funções na produção, edição e difusão de informações. E essa atividade exige conhecimentos sobre a reportagem e sobre todos os aspectos que a qualificam para ser destinada à publicação. Desse modo, amplia-se o valor do produtor de informação e do editor, ambos submetidos às exigências de domínio das tecnologias digitais, audiovisuais e gráficas para frequentar esse mundo novo.


Uma curiosidade: repórter é palavra cuja etimologia é a conjunção latina de res (coisa, objeto) e o verbo portare (carregar, portar). Daí, é aquele que porta a informação. Ora, de fato, jornalista não é o único sujeito que porta e transmite informações.