domingo, 28 de abril de 2013

O ensino do jornalismo num mundo perplexo

O VI Encontro Paulista de Professores de Jornalismo reuniu trabalhos que merecem dedicada atenção. Também os temas da palestra de abertura e os da conferência inaugural. Os rumos do ensino do Jornalismo enfrentam desafios tanto quanto à crise por que passam os jornais. As palestras do Eugênio Bucci (ESPM), na sexta-feira à noite, 26, do Carlos Eduardo Lins da Silva (Fapesp) e do professor José Coelho Sobrinho (ECA/USP), no sábado de manhã, apesar de diferentes visões, convergiram para uma impressão de perplexidade sobre a produção, a edição e a difusão noticiosa no mundo das redes e da tecnologia digital. A resposta para enfrentá-lo, segundo os expositores, na busca de um jornalismo para esse cenário determinado estruturalmente, é o investimento na pesquisa (o que é o jornalismo e para que serve?), na qualidade da informação e da produção noticiosa, na compreensão sobre o que quer o público e na independência e responsabilidade do trabalho profissional. Este, aliás, é submetido também à mudança profunda: mundo analógico é igual a emprego; mundo digital é igual às iniciativas, autônomas, criativas e empreendedoras (e rico em dúvidas!!).

Bucci e Carlos Eduardo convergiram em torno da tese sobre o jornalismo como negócio, sem abrir mão das responsabilidades e da ética da profissão num mundo cada vez mais complexo. De modo geral, ambos pertencem ao universo dos grandes jornais, dos cenários metropolitanos e mundiais. Contudo, os pequenos e médios jornais encontram eco em algumas iniciativas como as do maior investidor norte-americano, Warren Buffett, que tem adquirido empresas jornalísticas de pequeno e médio porte nos EUA. Na crise, as compra a preços baratos, na expectativa de serem valorizadas por editarem jornais de baixa circulação, mas com um componente relevante: são locais.

Um outro ponto comum: jornalismo é negócio. Ou melhor: a linha de pensamento de Bucci e de Lins da Silva, no evento, realçava o trabalho do norte-americano Tom Rosenstiel, diretor executivo do American Press Institute (http://www.americanpressinstitute.org/). A relação comercial entre a produção noticiosa, os meios de difusão e o perfil dos públicos consumidores é norte para os projetos destinados a alimentar a adequação dos jornais ao cenário das tecnologias digitais.

Aqui, na terra brasilis, a precarização profissional combinada com a tradição das empresas familiares ou contaminadas por grupos político-partidários (são poucas as exceções) desenham um presente nem tão próspero para a atividade se mantiver o modelo convencional predominante. Jornalistas vivem, tanto quanto os patrões, a indecisão provocada pelas profundas mudanças tecnológicas e econômico-financeiras que abatem práticas conservadoras e visões acomodadas sobre a produção noticiosa. Desafio para a construção de outros trajetos e projetos para um novo jornalismo e um jornalista ousado e desbravador.

O VI Encontro Paulista foi sediado e promovido pela ESPM / SP e pelo Fórum Nacional de Professores de Jornalismo.

Outro jornalismo - Foi na exposição do Prof. José Coelho Sobrinho, porém, que a expressão "crise de identidade" do jornalismo adquiriu outros contornos. Coelho Sobrinho destacou o resultado de pesquisa conduzida por ele, na USP, a qual constatou que os 18 cursos de Jornalismo avaliados na Capital paulista apresentavam "foco no mercado." Ou seja, reproduzem, de certo modo, os atributos do jornalismo convencional. As escolas de Jornalismo, portanto, parecem rejeitar outras modalidades ou modelos de produção e difusão noticiosa, como a comunitária, por exemplo. Aí, encontra-se um nó. Desatá-lo depende de um longo e multifacetado caminho.

terça-feira, 23 de abril de 2013

Profissão jornalista, função repórter

Aqui, o declínio com um viés contraditório. Ao apontar a profissão de "repórter" de jornal impresso (newspaper) como a pior entre 200 delas, o CareerCast.com expõe uma tendência formada pelo cenário atual dos jornais em papel e ao mesmo tempo um desvirtuamento. Repórter, no Brasil, não é profissão, mas sim uma das funções exercidas por jornalistas. Pode ser uma atividade desenvolvida por qualquer pessoa em situações diversas das praticadas no jornalismo. O foco do texto reafirma o lento desmoronamento da atividade convencional do repórter dos jornais impressos. 

Ocorre que as tecnologias digitais e em rede favorecem a reformulação da atividade ou da função. Qualquer blogueiro pode ser um repórter, de qualidade ou não, com habilidades ou não. Isso não significa que o tal blogueiro seja jornalista. A rigor, repórter é todo sujeito que carrega e difunde uma informação, uma notícia, que pode ou não ter um bom tratamento estilístico ou de precisão. Mas, jornalista - apesar de desempenhar o papel de repórter - exerce várias funções na produção, edição e difusão de informações. E essa atividade exige conhecimentos sobre a reportagem e sobre todos os aspectos que a qualificam para ser destinada à publicação. Desse modo, amplia-se o valor do produtor de informação e do editor, ambos submetidos às exigências de domínio das tecnologias digitais, audiovisuais e gráficas para frequentar esse mundo novo.


Uma curiosidade: repórter é palavra cuja etimologia é a conjunção latina de res (coisa, objeto) e o verbo portare (carregar, portar). Daí, é aquele que porta a informação. Ora, de fato, jornalista não é o único sujeito que porta e transmite informações.